sexta-feira, 1 de julho de 2011

Morango

Cravei meus olhos naqueles lábios felizes, que sussurravam o gozo da alegria. Pude, por um momento, sentir o gosto daquele sorriso. Morango, era morango.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

domingo, 19 de junho de 2011

Criativo?

Branco, todo branco, como uma noiva que resolveu não mais se casar. O papel jaz estático, irritante, logo às minhas fuças, olhando de volta em um tom claro de desafio. A arte por fazer, o texto por se concretizar e um sentimento que precisa ser remendado.. Tudo esquecido em um pedaço do mais triste...
















Branco.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Levante das Letras

É, esse blog está apinhado de crônicas. Eu até tinha outro em que escrevia sob a máscara do meu rosto, todo assertivo. Mas logo descobri que minha opinião nem era tão legal assim. Aí voltei às crônicas. Incrível como elas parecem fazer mais sucesso, sem de fato o fazer. Acho que a mágica das palavras dançantes, quase bailarinescas, escorrendo pelos parágrafos contagiou até a mim, o suposto ilusionista.

Tentei me esconder, evitar, mas não foi muito possível. Os meus textos amotinaram-se e ameaçaram-me de morte almática caso eu viesse a condenar mais algum deles ao “temido blog”. Dizem os revoltados que aquilo se tornou um cemitério, inóspito textualmente. Um deles ousou insinuar que eu os jogo lá por um simples instinto gritante de escritor, o qual supostamente me obrigaria a contestar os próprios conceitos de ordem sentimental e semântica.

O mais pequenininho deles, que não devia passar nem de 2 travessões de altura, gritou agudamente o quão obtuso era minha tentativa de esconder-me atrás de um bando de crônicas abestadas e desgovernadas, na trincheira intelecto-virtual. Primeiro, é claro, achei graça da pequetita criatura saber tecer tais comentários, mas acabei por emburrar-me. Malditos ingratinhos, lanço-os para os ventos do sucesso, e eles me vêm e vêem com tanto ódio nas entrelinhas.

Todavia, achei melhor obedecê-los, para não sofrer alguma crise criativa no meio da noite antes de algum vestibular. Concedi a eles mais um tempo de folga. Aliás, até admiti que eles pudessem estar minimamente certos. Às vezes nem só sobre mim, mas sobre um grupo bem maior que um de um. Não é qualquer aliteração ou assonância que evita explicitar a tamanha ignorância de um autor. Existe todo um esforço que há de se envidar para permanecer aparentemente intelectual. Só não pensei que meus próprios trechos iriam usar isso contra mim.

Descobri, de vírgula em vírgula, de ponto em ponto, de sílaba em sílaba, que elas que vão para o front. Aprendi ouvindo-as - e ocasionalmente sofrendo com algum acento que não sabia controlar a saliva enquanto falava - que alguns alguéns tendem a posicionar uma oração subordinada aditiva à frente de uma emoção, escondendo-a, protegendo-a, protegendo a si mesmos. Aprendi quem sou eu, com palavras que eu mesmo havia escrito.

Ainda bem que meus textos existem, não sei se iria sobreviver expondo-me assim. Sorte que os tenho para expor-se por mim.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Um canto de escada..

Era a mesma música triste de sempre, no mesmo mp3 descascado e sujo. A tristeza era a já bem conhecida, a terça-feira tecia-se como outra qualquer, com a fina chuva irritante ameaçando riscar o vidro a cada suspiro de vento. O canto em que eu me encolhia, usual de todo dia, era o preferido, cheio de mofo. Lajotas, ora quebradas ora não, espalhavam-se pelo espaço.

Era uma pausa entre dois lances de escadas, daquelas que você usa, tecnicamente, para mudar a direção da escada, mas que na verdade existem pelo simples motivo de se ter onde por as sacolas plásticas cheias de compra enquanto descansa, já que o elevador está quebrado há 5 meses. Muita gente passava por lá, e fazia questão de esbarrar em mim, afinal, sempre há e houve pressa.

No começo, todo mundo estranhava alguém tão jovem, em plenas férias de dezembro, sentado num lugar daqueles, olhando para uma janela torta. Depois se acostumaram, e passaram a, “inconscientemente”, tentar me atrapalhar. Atrapalhar o que, eles não sabiam, muito menos eu. Talvez ouvir a música certa naquele lugar certo fosse a resposta, mas não tinha certeza se caracterizaria de fato uma ação.

Sem nem perceber, já estava escorregando para frente, esparramado no chão. Aprumei-me, e dobrei os joelhos para que pudesse apoiar meus braços neles. O violão voltou a soar nos meus ouvidos. As notas iam, vinham, escorregavam. A cada mudança de tom, um sussurro. Os dedos do artista, supunha eu, corriam para um canto e voltavam para outro, desesperados, ofegantes. Hora ou outra, exalavam um som diferente, compassado, corrido, apressado.

A voz, porém, calma, acompanhava o instrumento só quando encontrava uma interrupção confortável, ensinando às notas o tempo certo, mesmo que os dedos se negassem a parar de correr, desesperados. Lembrou-me das pessoas, que passavam por aquela escada. O meu canto era uma pausa na vida deles. Subiam tão rápido os degraus limpos, que precisavam tomar fôlego nas lajotas mofadas, e mesmo que o mofo tentasse lhes mostrar uma velha lição, ainda havia pressa para subir o próximo lance de escadas, que discretamente ria, cúmplice.

Talvez fosse isso a causa de todo o ódio que cada coração e feição sentiam por mim. Eu vivia na pausa da pressa deles. Eu estava sempre quieto, calmo, absorto, uma afronta ao modo de vida daqueles indivíduos, do próprio curso da vida. Eu, naquele buraco do Destino, conseguia, dia a dia, driblar o tempo, o karma, e talvez, até, a morte. Continuei a ouvir os passos no braço do violão, cada vez mais cansados, quase resignando à falta de onde pisar. Ouvi, ouvi, até que parou.

Já estava me preparando para ouvir os pés voltarem às notas, já que aquela era a única música que eu tinha. Antes, porém, ouvi um som estranho. Alguém colocando um violão no chão, e levantando de uma cadeira de madeira revoltada, gritando contra o peso nela colocada. Logo depois, passos e uma porta aberta. Meu coração começou a bater mais forte, com raiva de uma surpresa que não havia de vir.

Os sons de pássaros, de carros, de gente conversando, invadiram minha mente. A andança apressou-se, não sobre um violão, mas sim a calçada, meio quebrada aqui e acolá, como se percebia pelos arfantes desvios do homem. Virou, parou, atravessou algumas ruas, foi diminuindo o passo. Logo, logo, ele pararia, pensei. Parou, de fato, e limpou o suor com a manga da camisa.

Em seguida, ouvi um som muito bem conhecido por mim. Era, se a minha deserção do mundo exterior não me obrigava um engano, a porta da frente do prédio. Apertei todos os botões do aparelho de música, mas ele não desligou. Nem tinha desistido e já ouvia degraus sendo subidos. Um lance, dois, três. De repente, cessou, e o artista pôs-se a tomar fôlego.

Também arfante, puxado de minha infeliz e corriqueira rotina, olhei para frente. Pude ver, sob a sombra da pausa de uma pressa qualquer, sem motivo nenhum, um alguém. Um alguém não, um conhecido. Pus-me a pensar, intrigado; refleti sobre minhas pausas, se na verdade eram uma clara mentira sobre a verdade de uma rotina que eu destinava-me a negar, tudo isso na fome de um momento.

Acabei por abdicar e admiti que sentar em cantos e ouvir cantos não iriam fazer-me fugir de algo que me desafiava todo dia, noite e tarde. Resolvi chamar o homem, pelo nome inclusive, já que o sabia, para um passeio nas escadas. “Um passo de cada vez”. Foi difícil deixar aquele canto confortável, mas não poderia negar um convite tão forte quanto ver a mim mesmo, com um violão nas mãos, todo suado.