A Thaís sugeriu "amor não correspondido" e a isaah cotting sugeriu "fraternidade". Isso resultou num "mini-conto" =D
1ª Parte
Minha mão usa sua força e a porta para indicar minha presença. A resposta ressoa fraca naquele beco sujo e úmido. Duas batidas vêm, duas batidas vão. Depois a pergunta, “quem bate?”. Respondo “seu amigo de vida e irmão de revolução”. Aquilo estava caótico, representava bem a situação do país. Crises climáticas numa nação que vende matéria-prima só podiam resultar em merda. E merda teve.
Desemprego e miséria levam a desordem, que leva a medo, que leva a um governo mais autoritário, tudo isso conspirando para um golpe e/ou uma ditadura. Sim, isso aconteceu, mas não durou tanto tempo quanto esperavam. O Brasil virou uma anarquia, um lugar sem leis, com supostas “assembléias e núcleos regionais”, os quais encobriam uma guerra entre facções e tráfico de drogas, armas e tudo que pudesse ser vendido para obter lucro e se possível comprar um pouco da escassa comida.
Dentro do complexo, capotei na cama que carregava meu nome na cabeceira. Os sonhos iam e vinham confusos, turvos, até chegar ao repetitivo e melancólico filme da minha adolescência. Cabelos longos, camiseta do Metallica, mochila nas costas, fone nos ouvidos, materiais escolares fazendo peso.
O que a maioria das pessoas que viam essa figura excêntrica pela rua não imaginava, é que nas últimas folhas do caderno de 20 matérias, textos e poemas representavam de forma fútil e fora das normas um amor alimentado por esperanças nunca concluídas, amor de adolescente, amor de um singelo portador de 15 anos de experiência.
A inabilidade em expressar sentimentos, independente de sua intensidade, causava ainda mais suspense sobre a identidade da menina tão idealizada pelo pobre garoto. A insegurança, que sempre afetou a infértil mente, mantinha-o refém, não permitia qualquer tipo de liberdade mental, nem mesmo para revelar quem era tal menina mulher.
Cabelos vermelhos e um rosto bem equilibrado chamavam atenção numa menina que já chamava atenção por si só. Os amigos do jovem apaixonado a taxavam de Dado Donabella, ou melhor, de traidora do movimento. Ela tinha deixado de ser “do metal” pra ser um robô controlado pelas massas de playboys envolvidos em alienação cultural e inversão de valores. Sim, era ela, a perfeita, a doce, a Mary Ann.