domingo, 15 de março de 2009

Moral do Amor 3ª Parte

Recuso-me a olhar os detalhes. Separo a última folha do bloco, a que continha as rotas e satisfaço-me em saber que poderia realizar meu trabalho e ignorar meu passado ao mesmo tempo. Volto ao quarto para o que alguns chamam de “tempo da meditação”, o qual era usado pela maioria para dar um tapa num beck ou afundar-se no haxixe. Eu nunca fui disso, então jogo-me na cama numa tentativa fútil e inconsciente de entrar em coma por contato com o colchão.

Faço-me confortável naquela cama que luta contar qualquer tipo de tentativa de ter uma posição ortopédica. Os papéis jogados na cabeceira, colocados lá por mim mesmo há pouco tempo, parecem um mapa de tracking. Encaro a parede com atenção. As imagens que se formam não são visíveis a qualquer um. Sensações nostálgicas tomam-me o corpo, as ilusões que nutria em minha juventude parecem-me tão imaturas agora!

Absorto numa partida de chessmaster, ao som das melhores músicas, desde Santana a Oomph, de Deep Purple a Dimmu Borgir, de Van Halen a Rammstein, de Depeche Mode a Celldweller, a tensão desfia-se como um frango exposto há muito.

Forte e confiante, como se paladinos protegessem-me em uma formação romana de batalha, rumo ao meu destino. Checo as armas e a munição, faço os preparativos necessários, crio as referências no computador de bordo, tudo compassado pelo melhor ritmo do true metal. O tilintar dos metais passam despercebidos e as bocas alheias movem-se sem sentido.

Entro no carro e começamos a jornada. Tal comboio não passaria despercebido por muito tempo, então a instrução é deixar os sistemas de defesa ativados. A viagem é melancólica até certo ponto, o qual seria o “marco 30”. Trinta quilômetros antes de entrar nos perímetros inimigos. Provavelmente haveria minas aqui. Não minas de shortinhos e decotes, minas terrestres que arrancam seu pé igual uma marmota mutante. Um retardado, no sentido literal da palavra, passa reto e se encontra com uma mina. Seu veículo sai quicando e explodindo, mais que suficiente para evidenciar nossa presença.

As cápsulas caem ao chão como pétalas d’uma rosa perdida. As balas rasgam o ar como águias famintas. A presa das metralhadoras fumegantes esquiva-se desesperadamente. E então, em um momento de sorte ou azar, um dos projéteis acerta o vão da janela traseira do Toyota, colando borracha e miolos na parte interna do pára-brisas. A minha eficiência me assusta. Temo pela identidade da vítima, por uma fração de segundo sinto remorso, então uma granada explode o Land Rover ao lado e tudo volta à realidade. Ou não.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Moral do Amor 2ª Parte

(Desculpem pela demora, ;x)


“Ei, Eremita”. “Acorde”. O infeliz despertador não foi bem-sucedido em sua função. Acordei em cima da hora, meu apelido lá dentro, O Eremita, devia-se a minha habilidade em estudos gerais e também por minha aparência estranha na época da minha entrada aos “Abutres do Vale”. Um jovem de 20 anos, subnutrido e com medo não passa despercebido numa iniciação.

No “refeitório”, nós comemos o que há de disponível, geralmente algum enlatado que havia sobrado dos saques às cidadezinhas do interior. Piadas sobravam num ambiente desses. Murmuro para o irmão que havia me acordado anteriormente, “Conan, aquela ervilha acabou de xingar sua mãe”.

Nossa vida era uma imitação grotesca e com TV de um Paleolítico. A rotina é ir numa vila, pegar tudo que sobrou, voltar e dividir as conquistas com a “tribo”. Talvez hábitos do Neolítico ultimamente, já que nossa organização envolveu-se num incidente bélico (entenda como tiroteio por causa de um pedaço de bacon) com uma das inúmeras facções do interior do estado. A “Lobos do Chimarrão Paulista” comanda a região noroeste do que já foi o estado de São Paulo, o problema é que não sabíamos disso.

Os veículos disponíveis eram off-roads ou afins que recebiam armas e placas de metal para proteção. Eu, magro e fraco, sou o navegador de Conan. Nós temos a mesma idade e nos entendemos muito bem. Esse nome estranho deve-se ao fato dele ser musculoso e lembrar o Conan. O nosso “bebê” chama-se Otumba Norris, porque corre igual um queniano e sendo um Hummer com duas metralhadoras .50 na frente e placas de proteção atrás e dos lados pode muito bem ser comparado ao Chuck Norris.

Na sala de “reuniões”, o nosso grande Warlord, Zangyef Paulista nos dirige a palavra. Disserta sobre os perigos de uma guerra com outra facção poderosa. Sua postura humilde era de impressionar, apesar de ter o poder de massacrar qualquer um dos presentes, ele não ostentava tal fato e trata todos como seus iguais. Distribuiu as rotas para as duplas.

Não passou batido o fato de que algumas duplas não receberam rotas naquele momento. Mais interessante ainda foi a minha dupla não ter recebido também. O Zangyef providencia para que nós continuássemos na sala. “Tenho um trabalho especial para vocês, preciso de alguém assassinado, em movimento, sem provas. O alvo está nessa pasta, espero que vocês façam um bom trabalho juntos, não quero serviço de porco nessa operação”. Na pasta entreaberta enxergo cabelos ruivos esvoaçantes e um rosto característico. Meu corpo afunda.